03 dezembro 2012

Mãos atadas

Como todas as outras noites, ela sentou em frente a janela encarando a imensidão do mundo.

Se ela aceitasse sua condição, estaria desistindo de acreditar que podia se curar? Ela sempre conseguiu tudo que quis, mas agora não. Agora ela estava de mãos atadas. Por um momento, sentia-se traída por seus próprios pensamentos.

Talvez se ela tentasse mais, se acreditasse mais... não era possível que não se podia fazer nada!

Sua aparência frágil escondia uma personalidade indomável, e aceitar algo que ela não concordava não era, nem de longe, uma opção.

Talvez o problema nos olhos tenha lhe dado condição de ver menos e sentir mais. Por isso ela busca tudo o que é verdadeiro, fazendo o impossível e o improvável por algo que acredita. 

Essa seja, talvez, sua maior qualidade conquistada.
A qualidade que desata amarras, abre caminhos e torna qualquer desejo possível.

Para sempre?

De repente eu vá embora para sempre.
De repente você não fale comigo nunca mais.
A gente sempre treme na base com essa sensação de perder o controle.
Cada incerteza assusta, mesmo sabendo que, na maioria dos casos, o para sempre nunca dura tanto assim e o nunca mais sempre volta a acontecer.

É pura contradição.

Sendo assim, julgo as palavras "para sempre" e "nunca mais" como mentirosas em toda sua magnitude.
Em cada tom de voz em que são pronunciadas, cada letra maiúscula em que são escritas, cada ênfase, cada destaque.

Palavras que deveriam ser banidas de qualquer conversa, dicionário e página do google, se não tiverem passado por uma rigorosa análise prévia de veracidade de conteúdo e intenção a longo prazo.

O para sempre, sempre acaba.
Até que se prove o contrário.

26 novembro 2012

Só mais essa vez

"...E um dia a gente acorda e sai por aí.
Acaba esbarrando no sorriso mais lindo do mundo, no melhor abraço e nas promessas com cara de verdade.

E aí a gente esvazia o coração, joga fora as mágoas e pensa:

Só mais essa vez."

05 julho 2012

Há quem viva dela e por ela, jurando de pés juntos que a vida só tem sentido quando se crê em uma força suprema. 

Existem os que se comprometem: Tá duro? A vida tá ruim? Faz uma fézinha, umas simpatias, umas orações, uns três pulinhos, que vai. Existem outros cuja fé se baseia apenas em ter um bom fim de semana, um casamento feliz, um emprego recompensador.

O fato é que toda pessoa otimista tem fé.

Dizem que pessoas otimistas vivem mais, tem menos doenças, são mais felizes. Que seu rosto, jeito e até seu modo de andar exalam uma energia radiante e cativante.

Dizem que a fé move montanhas e cada montanha abre o caminho para a luz, a cura para alma. O impossível pode ser, na verdade, apenas improvável: basta acreditar.

Plena ou não, eu continuo acreditando.

26 junho 2012

Quem pode mais?

A pressão arterial subiu e os músculos do pescoço tensionaram-se rapidamente. Em segundos, observou-se o rosto enrubrecer, a testa franzir, o tom de voz aumentar e todo o peso da mão desabar sobre a mesa: RAIVA.

Toda energia represada foi descarregada e o objetivo foi atingido.

Os fracos se afastaram, os que passavam por ali caminharam mais rápido, cabeças se abaixaram e a autoridade confortou-se em seu trono, no topo do mundo, como se ninguém a tivesse incomodado, toda orgulhosa de si.

Poder.

Pode mais quem fala mais alto?
Fala mais alto quem manda mais?
Manda mais quem ganha mais?
Ganha mais quem tem mais poder?

Com a coragem de procurar, encontra-se o medo que torna o gigante uma criança e, de repente, não existem mais heróis.

No fim do jogo, o peão e o rei voltam para a mesma caixa.

30 maio 2012

Ando devagar

Como quem não sabe o que está procurando, eu corria em busca de algo inexplicável.

Corria como quem tinha pressa de chegar.
Tentei por vezes rearranjar as peças a meu gosto, manipular meu futuro. 
Deixava rastros de um cálculo mal feito, de um roteiro mal planejado, deixava em mim marcas de uma estratégia mal sucedida, de um querer chegar ao céu sem alicerces.

Tinha pressa de conquistar, de ser e estar.
Não por ambições e individualismos, apenas porque sempre julguei como pouco o tempo que tinha pra viver. Eu queria mais e eu queria logo.

Hoje ando devagar porque não tenho pressa.

Caminho como quem aprecia o verde da grama, os raios de sol, a suavidade do vento.

Olho para trás como quem compreende, agora, pertencer a algum lugar.

Você tem gosto de sábado ensolarado, de nostalgia inacabada.


Você me traz um sorriso a mais, uma esperança a mais.

E eu não tenho pressa nenhuma.

15 maio 2012

Existe chance?

Dar uma chance é a maneira mais eficaz de “ver para crer”. É estender o copo, dar o leite e esperar que ele não seja derramado. 

Todo mundo merece uma segunda chance se, e somente se, ela ainda possuir o poder de convencer que vale a pena limpar a sujeira e começar tudo de novo. Neste caso, se faz merecida uma terceira, quarta, quinta, quantas chances forem, e cada chance acaba esbanjando um copo cheio.

Ganhar uma chance não é fácil porque requer uma única e árdua condição: a mão que estende o copo deve querer estendê-lo.

Sem essa condição não existe chance.

E, quando não existe chance, não se chora pelo leite derramado.

03 maio 2012

Comentário? Opinião!

Toda manhã, um comentário e uma opinião se levantam. Até o meio dia, eles sempre se encontram.

O comentário passa quase despercebido na forma de um murmúrio, uma reclamação, um pensamento alto, mas a opinião tem ouvidos aguçados, não se contém e trata logo de meter o bedelho onde não é chamada:

- Esse seu emprego não te traz nada de bom.
- Por que você continua aceitando coisas assim?
- Eu avisei, você parece que não muda nunca!
- Se fosse comigo, eu com certeza já teria jogado tudo para o alto. Não sei como você aguenta.

E a opinião não se cala. Dona de toda verdade, finge que em situações semelhantes agiria de maneira diferente.
Condena, julga, critica.

"Existem verdades que a gente só pode dizer depois de conquistar o direito de dizê-las", dizem.

Pelo direito de dizê-las aqui, eu digo que o mundo precisa de exemplos, não de opiniões.

01 maio 2012

Gentileza gera gentileza

Há sempre um ato que surpreende onde existe gentileza.

Gentileza pode ser confundida com flerte, interesse, bajulação, mas toda gentileza sincera é inquestionável e reconhecida com um sorriso tímido de gratidão que escapa pelo canto da boca ao sentir-se o mais importante do mundo.

Este ato de bondade oferece sem receber nada em troca, oferece com o intuito de lavar a alma e ser mais humano,  fazendo o bem sem olhar a quem.

Gentileza não vê cara nem coração, não vê erros, não tem rancores nem mágoas, por isso tem o poder de transformar uma conversa, uma relação, um relacionamento profissional... uma vida.

Nunca é tarde para ser gentil.

Afinal, quem oferece flores fica sempre com um pouco de perfume nas mãos.  

29 março 2012

Momento propício

É em um momento propício que as decisões são tomadas, os argumentos são refletidos, os investimentos são feitos, novos projetos são inicializados.

Um momento propício é um mínimo espaço de tempo que não é causado e nem planejado, ele é apenas reconhecido. Reconhecê-lo não é uma tarefa fácil pois o momento propício é ligeiro, não ostenta delongas e pode facilmente ser confundido com um outro momento qualquer.

Querer antecipar os acontecimentos muda todo o ambiente em que eles estão envolvidos, por isso violar um momento propício é como provocar uma situação incômoda - só não parece natural.

É na circunstância desse momento ínfimo que se é capaz de distinguir a ausência do silêncio, os problemas das situações.

É em um momento propício que a cortina se abre, a magia acontece e as peças se encaixam.

As peças sempre se encaixam.

02 fevereiro 2012

Enigma

Só não vê quem não quer ver.

Os sonhos são grandes, as esperanças ainda maiores, mas os passos não têm o mesmo ritmo e nem parecem ter mais o mesmo destino.

Os gestos falam por si só e não dizem nada.

A verdade é que no fundo de cada pessoa há um enigma impenetrável.

... E ela já não pode insistir a impaciência do coração.

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