12 agosto 2010

Passagem

Por um momento, eu jurei ver um rosto conhecido em meio a esta multidão.

Esfreguei os olhos, procurei, chamei e corri com todo o fôlego que tinha.

Minhas desculpas por esbarrar nas pessoas não eram suficientes para calar os murmúrios irritados, mas elas não sabiam, elas não entendiam. Também, como poderiam? Nem eu entendia.

Eu buscava em vão alcançar a despedida que nunca existiu.

Minha vontade de dizer tornou-se um nó em minha garganta, engoli a dor que me pegou de surpresa e senti meu corpo inteiro esfriar.

“A vida e a morte são demasiadamente implacáveis para que sejam puramente acidentais”, ouvi dizer.

Perplexa, exigi acordar de algo que eu sabia não ser um sonho.

Esperei que as câmeras aparecessem, que as risadas começassem, que me dissessem que aquilo tudo era uma brincadeira – de muito mau gosto.

Continuei correndo, incrédula, a procura da vírgula, do detalhe que faltava, da peça que completaria o quebra-cabeça.

Em meio à multidão, uma mão agarrou meu braço com força, puxando-me para trás e me implorando esmolas, como se eu tivesse o poder de dar vida por algumas moedas.

O mundo não tinha parado, mas, por um momento, eu tinha.

Cada um caminha sem saber o quando e o como, somos todos passageiros nesta viagem só de ida e estamos todos indo para o mesmo lugar.

Relutei:

- Desculpe-me senhor, mas estou aqui só de passagem.

Linkwithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...