09 julho 2008

Apenas Diferente

Danada, a pequena.

Diziam que ela era pentelha demais, forte demais, caía, levantava, chacoalhava a poeira e não derrubava uma lágrima sequer.

Ela não chorou com injeções, não chorou quando seus pequenos dentinhos nasceram, não chorou nem quando caiu do berço e bateu a cabeça.

Uma vez, ela acordou assustada de madrugada com sangue por todos os lados e viu sua mãe aos prantos limpando seu rostinho pequeno e inocente, mas ela não entendia que não podia morder os lábios – ela não sentia dor.

Ela só não era como as outras crianças.

Não sabia que não podia arranhar o rosto, nem que deveria tirar a mão do ventilador ou do fogo.

Ela era apenas diferente por nascer assim.

Alguns dizem não poder suportar a dor do machucado e da perda, abominam o aperto no peito e as pontadas pelo corpo.

Luxo.

Outros suplicam querer senti-la apenas para que possam sobreviver.

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