Danada, a pequena.
Diziam que ela era pentelha demais, forte demais, caía, levantava, chacoalhava a poeira e não derrubava uma lágrima sequer.
Ela não chorou com injeções, não chorou quando seus pequenos dentinhos nasceram, não chorou nem quando caiu do berço e bateu a cabeça.
Uma vez, ela acordou assustada de madrugada com sangue por todos os lados e viu sua mãe aos prantos limpando seu rostinho pequeno e inocente, mas ela não entendia que não podia morder os lábios – ela não sentia dor.
Ela só não era como as outras crianças.
Não sabia que não podia arranhar o rosto, nem que deveria tirar a mão do ventilador ou do fogo.
Ela era apenas diferente por nascer assim.
Alguns dizem não poder suportar a dor do machucado e da perda, abominam o aperto no peito e as pontadas pelo corpo.
Luxo.
Outros suplicam querer senti-la apenas para que possam sobreviver.