05 dezembro 2008

Urgência

Tenho fome, tenho sono, tenho sede.
Tenho em mim urgência de ser e estar.

Eu sou insaciável, inatingível.

Minha exigência me cansa, minha não aceitação me cansa, minha busca me cansa e eu me canso de mim.
Não me entendo e ajo como se me entendesse. 

O que sinto não ajo.
O que penso não falo.
O que sei não me convence.

Há o direito de gritar, então eu grito.

Palavras desordenadas, frases confusas, ideias contraditórias tentando achar um caminho e um nexo quando saem de minha boca.


Eu grito.

Quem engole o choro não se faz ouvir. 

27 novembro 2008

Sim ou não?

Neste mundo não existe metade da laranja.

Ninguém ama pela metade, nem perdoa pela metade, nem existe pela metade.
Você não é uma metade, simples assim.

Não depende.
Não tem talvez.
Sim ou não.
É ou não é.
Sente ou não sente.

Ou você está dentro ou você está fora.

Deixo aqui minha indignação pelo “não sei”.

15 novembro 2008

Eu engenheira, você artista

Você lida com emoções, entende de nuances e xilogravuras. É a pessoa mais criativa que eu conheço.
Eu, fria e calculista, não entendo nada de tipos de pincéis, papéis e tintas.

Eu nostálgica, você também.

Sentimos falta de bexigas de aniversário coladas no teto, planos mirabolantes, conversas de madrugada, kartódromo, Florianópolis, natal em família.

Eu 21, você, agora, 19. E eu ainda me lembro quando tínhamos 9 e 7.

Nós passamos e vivemos as mesmas situações, por isso só você conhece meu trauma e só eu conheço o seu.

Você entende minha história antes de eu te contar, completa minha frase antes de eu terminar.

Você é essencial na minha vida e não precisa de um porquê.
Você simplesmente É.

Eu levo comigo cada overdose de pirulito de coração.

06 agosto 2008

Sumo aos Poucos

Não por querer, mas porque a água não é mais fresca e a pupila não tem mais vida.

As prioridades mudam.

O telefone para de tocar.
As mensagens param de chegar.
A rotina desanda.
A necessidade clama.

Não existem explicações nem justificativas.
A culpa não é minha e a culpa não é sua.

Às vezes, quando o silêncio é melhor que palavras, é preciso calar-se.
Calando-me, sumo aos poucos.

Não por querer, mas porque a gente sempre sabe quando um show acaba.
Mesmo que não haja aplausos.

09 julho 2008

Apenas Diferente

Danada, a pequena.

Diziam que ela era pentelha demais, forte demais, caía, levantava, chacoalhava a poeira e não derrubava uma lágrima sequer.

Ela não chorou com injeções, não chorou quando seus pequenos dentinhos nasceram, não chorou nem quando caiu do berço e bateu a cabeça.

Uma vez, ela acordou assustada de madrugada com sangue por todos os lados e viu sua mãe aos prantos limpando seu rostinho pequeno e inocente, mas ela não entendia que não podia morder os lábios – ela não sentia dor.

Ela só não era como as outras crianças.

Não sabia que não podia arranhar o rosto, nem que deveria tirar a mão do ventilador ou do fogo.

Ela era apenas diferente por nascer assim.

Alguns dizem não poder suportar a dor do machucado e da perda, abominam o aperto no peito e as pontadas pelo corpo.

Luxo.

Outros suplicam querer senti-la apenas para que possam sobreviver.

20 junho 2008

Relembrar

Hoje é o dia do ano que não tem comemoração.

Não tem brigadeiro, não tem barulho, não tem presença.
Hoje é dia de lembrar dos machucados bonitos que a gente ganhava descendo ladeira com carrinho de rolemã, do futebol na rua, das balas de coco que a gente roubava da geladeira quando sua mãe saía, das porcarias que comprávamos sempre na mesma doceria, de can-can, mega drive e mandiopan.
Faz tanto tempo, né?
Hoje não tem mais família reunida, não tem bolinha de gude, corrida de tatu, pipa na rua e mamonas assassinas.
Não tem mais autorama, nem lutinha, nem patins, nem banco imobiliário.
Hoje não tem abraço.
Mais um ano se passou, as velas no bolo não param de aumentar e uma parte de nós se perdeu com essa distância.
A outra parte?
Eu levo sempre comigo, porque você foi minha infância, meus fins de semana, meu melhor amigo.
E eu nunca me esqueço de você.

18 maio 2008

Começa o Jogo

Este é um jogo entre você e minha memória.
Não se anime: ela não joga mais do seu lado.

Ela sempre te salvou no fim do segundo tempo, fez-te presente quando você não estava, jogava contra mim e arranjava gosto em fazê-lo.

Hoje, ela joga contra você.

A mão estendida é a mesma que te joga no chão.
A mesa vira, as peças mudam, o teatro não é mais meu.

A mão que te joga no chão é a mesma que te é estendida, por isso eu sempre me sinto em um jogo.

Minha memória é meu guia, como a sua é o seu, como quem já se queimou não põe mais a mão no fogo.

Se você perder, ela não volta mais para te buscar.
Mas não se assuste, eu não quero soar ameaça.

Não é assim que eu jogo.

17 abril 2008

Intenção

O corpo denuncia a intenção.

Ele cruza os braços, rói as unhas, batuca na mesa da sala de espera, se enrola todo ao tentar arranjar desculpas.

É uma essência incontrolável, involuntária e transparente.
Quando você vê, já foi e já viram.

Palavras iguais podem ter significados diferentes em contextos diferentes.
Ações iguais são sempre iguais, independente do contexto.

O corpo age com uma destreza inquestionável.

Deixa escapar palavras, gestos, olhares, movimentos e responde sempre da mesma maneira diante do susto, medo, surpresa, nervosismo.

Ele age primeiro e pensa depois.
Perde o controle, o senso, perde-se em si mesmo.

Nessa hora, a intenção ganha corpo.

23 março 2008

Justificável

Basta ser justificável para que a chuva não atrapalhe o compromisso, para que a preguiça não seja desculpa e o cansaço não limite o desejo.

Ter conhecimento do próprio limite é saber aguentar um, dois, três socos bem dados enquanto o esforço valer a dor.

Quando ele passa da validade, o valor se perde. Afinal, com esforço em vão não se brinca e não se ganha.

Perde-se a si mesmo quando a vontade morre.

O desgaste entra pela porta da frente, acomoda-se no sofá da sala, põe os pés sobre a mesa. É quando o brilho se esvai, o caminho passa a ser longo demais, a fruta apodrece, o sabor some, o colorido vira preto, branco e cinza.
O ar falta.
Uma hora, o ar sempre falta.

A partir daí, o grande ponto da questão é se você vai ou não encontrar outra maneira de respirar.

Para isso, basta ser justificável.

05 março 2008

Marionete

O tempo não para e todo relógio continua.

Relógios foram feitos para entregar o relatório, assar o bolo, terminar o expediente e colocar a criança para dormir. Monitoram cada ação, amontoam afazeres, sincronizam nossas necessidades com uma mania robótica.

Em suma, nos fazem marionetes.

Meu relógio de pulso é ligeiramente oval, analógico, desprovido de fábrica do ponteiro de segundos - mero detalhe.

Quebrado, estático, morto - é a impressão que tenho quando insisto em encará-lo.

Por um segundo, tenho a sensação de congelar o tempo, mas as pernas impacientes continuam batendo os pés no chão e vozes ainda saem de bocas falantes.

O tempo não para e meu relógio trapaceia minha mente.

No fim das contas, é essa trapaça que nos deixa com a sensação de não ter tempo para nada.

01 março 2008

Essencial

Essencial, a saudade.

É como se diferencia o que vale a pena do que não faz diferença.
É quando a gente sente o perfume, ouve a música, vê o lugar e faz ressurgir da alma a pessoa, o fato, a infância.

É sentir que, apesar do tempo, ainda há festa aí dentro.

Saudade é a festa ausente.
Ausência só é falta enquanto permanecemos na memória de outras pessoas.

Você não existe se as pessoas não se lembrarem do que você fez, do que você disse ou de como você as fez sentir.

Presença só preenche o vazio se você marcou de alguma forma.

Se não, sua presença é qualquer presença.

E sua ausência é tão ausente que ninguém nem sente.

23 fevereiro 2008

Limite

Não importa o quanto você fale, é impossível te ouvir deste lado.
Você pode gritar, chorar, espernear até.

Você pode chegar bem perto e tentar quebrar este vidro que nos separa, mas suas mãos sairão sangrando e o cansaço virá fácil.
Poupe suas energias - se eu estiver de costas, nem notarei sua presença do outro lado.

Seu espaço acaba quando começa o meu. Deste lado, eu acredito no que quiser.

Posso ver seu desespero, seus machucados, seu sofrimento, mas eu não ouço, eu não sinto.

Eu vejo uma cena quase teatral.

Seus olhos me olham, mas não podem me alcançar.

12 fevereiro 2008

The start...

...of something new. :)

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